“Tenho-me esforçado por não rir das ações humanas, por não deplorá-las nem odiá-las, mas por compreendê-las.”
Bento de Espinosa. Filosofo

"rapadura é doce mas, no entanto, não é soft and crispy"

Francisco Bruza Espinosa , Desbravador da Bahia
"Olá Leitores, Muitissimo Boa Noite, Tarde ou Manhã. Vamos dar inicio a nosso teatro de palavras, Motivados pelo nada e patrocinados pelo tudo, inclusive por sua Tia."

Tenham um bom voo

Lucas Et Cetera Proa


Magalomania é um transtorno psicológico no qual o doente tem ilusões de ser Sidney Magal, em carne e osso!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Comprimidos de Coragem.

-Cláu, você fechou a janela?
-Fechei, Bem.
-Sabe que São Paulo não é como antes!
-Sei, Selma, sei. Sabe o que eu sonhei esses dias? Com a nossa viagem a Paris. Aquela que fomos logo quando me aposentei.
-Cláu, aquilo foi o melhor presente que você já me deu. Eu não desconfiei de nadinha. Sabe que eu sempre fico falando de você quando vou no cabeleireiro. Não tem marido melhor no mundo!- disse Selma virando-se na cama para abraçar Claudionor.
-Que cidade linda! Aquilo sim foi nossa lua de mel! Nem perto de quando nos casamos. Saímos da igreja correndo para o sítio do seu tio Zé Carlos perto de Lins. Que casebre hein. Você lembra como foi?! Lembra quando aquela vaca entrou no quarto e lambeu minha bunda?
-Nossa eu morri de vergonha daquilo. Era minha primeira vez e uma vaca me entra no meio!

Riram, deram um beijo de boa noite e dormiram abraçados. Daqui a um mês completariam 40 anos de casados, e Claudionor já tinha comprado as 2 passagens, apenas de ida, para Paris. Faria como da primeira vez, uma surpresa, e tinha certeza que ela adoraria. Claudionor marcará para amanhã uma reunião, às escondidas de Selma, com um corretor para acertar a venda dessa velha casa. Com o dinheiro compraria um apartamento pequeno, só para os dois, e ainda sobraria uma boa reserva para gastar com Selma. Esbanjar na Cidade-Luz.

Era estranho para Claudionor pensar como seria a vida sem aquela casa. Viverá mais de 40 anos naquela mesma rua do bairro da Pompéia. Antes o local era pacato. Lembrava dos seus filhos brincando naquelas ladeiras. Cesinha jogava bola na rua. As ruas ficavam pintadas em tempos de copa. Vanessa tinha muitas amigas no bairro que vinham na sua casa para ouvir vitrola. LPs do Bon Jovi. A casa que seu Claudionor comprará por ajuda das empresas Matarazzo, onde trabalhava como supervisor do Mercado Superbon na rua Turiaçu, tinha muita história. No chão daquela sala, César venho ao mundo às pressas, seis meses e o menino resolveu nascer, pois nasceu. E assim era o seu filho que também resolveu ir morar nos EUA, pois foi. Hoje está bem lá, tem família, casou-se com uma americana feia, mas de bom coração. Seu Claudionor não se conformava, antes ficasse no Brasil e arranjasse uma mulata bonita. Selma o consolava “A menina é boa, e César está feliz. Isso é o que importa”. O velho concordava. E reclamava do Eduardo, o segundo marido de Vanessa que segundo Claudionor, era um vagabundo. O genro vivia de especulação em bolsa de valores e trabalhava em casa. Coisa de vagabundo. Mas Selma contornava o velho “Ela ama ele, e está feliz. Isso é o que importa!”. Claudionor concordava, sempre concordava com Selma, e retrucava “É... Que pelo menos esse não morra! Melhor um vagabundo vivo que um trabalhador defunto.” . O primeiro marido da filha morreu no segundo ano de casamento. A filha agora morava no Rio de Janeiro com Eduardo. Sem os filhos na casa, os Azevedo se sentiam sozinhos. A casa tinha eco. Seria melhor um apartamento pequeno, só para os dois. A idéia de mudar de casa ainda incomodava o velho Cláu.

-Então, aqui estão as chaves. Agora você é o proprietário. Meus parabéns!
-Hahaha, corta essas cordialidades Chico. Sabe que eu ainda estou me acostumando com a idéia.
-Oh, Caipira, vai para Paris, curte a dona Selma e aposto que vocês vão voltar de lá loucos para se mudarem. Mas não se esqueça, você tem 2 meses para desocupar a casa.
-É acho que Selma vai adorar voltar a Paris. Pena que não temos aquele fogo como da primeira vez.
-Que é isso Claudionor, agora as coisas estão mais fáceis. Uma pílula azul e pronto, você vira touro de novo.
-Cê acredita mesmo nisso Chico? Esses remédios são tudo farinha de trigo. É tudo enganação, quando cê chega na nossa idade não tem jeito mesmo. Só com guindaste.- disse rindo da própria condição, que não lhe agradava, mas sentia-se confortável em desabafar com um amigo de longa data que provavelmente passara também pela mesma odisséia masculina do fim da virilidade.

O amigo lhe deu uma cartela, e recomendou que testasse. Claudionor guardou no bolso achando aquilo uma tremenda bobagem. Despediu-se de Francisco, seu amigo desde os tempos que ele morava em Lins, interior paulista. O papo estava bom, mas não podia se atrasar senão a esposa desconfiaria dessa mudança de rotina. A rotina era sempre a mesma, qualquer atraso pareceria estranho. Era quarta-feira, dia de ir na pizzaria, iam a pé, ficava a 5 quadras da velha casa. Eram um simpático casal de mãos dadas andando pela rua. Seu Claudionor sempre vestido a rigor. Selma usava colar de pérolas. Há mais de 30 anos faziam isso. Pizza do Novaes – Quartas: Peça a pizza e ganhe um vinho! Eles trocavam o vinho pelo suco de laranja, Selma tomava remédios. Nas quintas eles jogavam tranca na casa dos amigos do Lions. Sexta era dia de fondue, Selma era de descendência suíça. Sábado iam ao Jockey Club. Todos horários regulados. Sempre juntos e de mãos dadas. Era a cumplicidade do amor da terceira idade, não importa o que aconteça eles estarão juntos. Mesmo que o prazer acabe.

Selma viajava uma ou duas vezes por mês ao Rio de Janeiro, com pretexto de visitar a filha que sempre foi muito apegada à mãe. Esses dias Claudionor dedicava aos amigos. Ia ao bar do Simão e encontrava a velha guarda dos demitidos da Matarazzo. Dessa vez, à algumas semanas da viagem a Paris, não seria diferente. A não ser pelos comprimidos. Claudionor preferiu testar antes de colocar em prática, pois pensou que se morresse do coração pelo menos não seria em cima de Selma. O que provavelmente a mataria do coração também.

A volta da virilidade. Sentiu se como se fosse jovem novamente, como se não necessitasse mais fazer concessões éticas e morais à Selma. Não se culparia mais por ser broxa. Já faziam mais de dez anos de inatividade, com alguns momentos de clarão, mas clarões que não eram lá de tanta claridade. Com a esposa fora por 5 dias, Seu Claudionor resolveu que teria tempo para viver novamente. Amava Selma, mas de outra maneira. Aliás, ele amava muito Selma, por isso tolerou aquilo por mais de 5 anos. Pensava que a culpa era dele. Pois agora seria mesmo. Os amigos do Simão iam para um forró. Cláu descobriu novamente como era. Florisberta, uma nortista arretada que tentava a vida em São Paulo, descobriu também o charme de ser uma princesa. Claudionor a tratava como um gentleman, faria de tudo para aquela que o trouxesse de volta. Flor, como ele a chamava, o trouxe. Comprou camisetas, tênis de corrida, entrou na academia e foi fazer natação. Ligou pra Selma e disse para que ficasse no Rio mais uns dias. Selma adorou, Selma adorava o Rio. Claudionor sabia por que. Ele concordava com a atitude dela. Ele sempre concordava com ela.


Selma o esperava em casa. Ela tinha chegado e ele não estava em casa, pois havia dormido com Flor. Claudionor ligou avisando, e pediu para que ela o esperasse. O velho entrou pela porta da frente passando pelo corredor cheio de fotos. Parou por um minuto na frente da foto do casamento. Ele sempre foi apaixonado por Selma, mas sem a virilidade ele se sentia coadjuvante na vida. Figurante do amor, fazendo pose para foto. Olhou outra foto deles, de 2 anos atrás. Viu seu sorriso fraco, e se sentiu mal por isso. Enxugou uma lágrima que insistiu em sair. Encheu o peito de ar e foi até a sala. Selma estava sentada, linda como sempre. Ela era 10 anos mais jovem que ele, uma tremenda cinqüentona, quase sessentona. Vestia um vestido vermelho colado. Sempre voltava do Rio com roupas insinuantes. Ela se levantou involuntariamente ao ver Claudionor vivo. Tinha olhos vivos. Foi como se se apaixonasse de novo. Ele foi na direção dela e a beijou antes que ela pudesse respirar. Selma sentiu o mundo dar voltas. Ele apertou a bunda dela, e sentiu seus pêlos arrepiarem.

-Selma, eu vendi a casa, e vou para Paris com Florisberta, minha namorada. O dinheiro da venda dividimos quando eu chegar de viagem. Volte para o Rio e passe bem com o Rogério.
-Você sabe do Rogério?

Claudionor ficou quieto. Não queria assinar o testamento de corno, nem dar esse sabor para Selma. Pois mesmo assim, mesmo tendo um namorado carioca- jogador de futevôlei- ela nunca abandonou Claudionor. Ela amava ele. Mas fazia amor com Rogério.
Era estranho para Claudionor pensar como seria a vida sem aquela Mulher. Mas era um estranho bom. Assim como o perfume de Selma.


Special thanks to Leo Ferraz pela cuidadosa revisão
Valeu pelo tempo despendido cara!

5 comentários:

Unknown disse...

Muito bom o texto, criativo e com final surpreendente.. sério mesmo, não era esperado que a Selminha com o menino do rio... e a pílula mágica rompendo lares.. hehehe Parabéns!!!!

Thiago disse...

'Melhor um vagabundo vivo que um trabalhador defunto.' frase sem dúvidas muito boa!!
eheheheh ainda acho que se ele tomasse a pílula antes o final podia ser mais feliz pro matrimônio dele!!
hehe
abraços Magal!

Leonardo Ferraz disse...

opa vlw pelos creditos hauauhua
mas kra gostei bastante da historia! moh comedia! a melhor parte foi a do guindaste hauahuahua
continua assim kra, ta cada vez melhor hehe
abraço!

Milton Daré disse...

HAHA Sensacional, eu realmente não esperava pelo final, ainda mais com o carioca da selminha.
Parabéns Magal... muito criativo.
abraços

maynara disse...

dois velhinhos safados..no fim, fiquei com dó da tia mas po; ela também tinha seu caso no rj..mas levar a nordestina pra paris é osso hein?! hahahahaha beijo

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