“Tenho-me esforçado por não rir das ações humanas, por não deplorá-las nem odiá-las, mas por compreendê-las.”
Bento de Espinosa. Filosofo

"rapadura é doce mas, no entanto, não é soft and crispy"

Francisco Bruza Espinosa , Desbravador da Bahia
"Olá Leitores, Muitissimo Boa Noite, Tarde ou Manhã. Vamos dar inicio a nosso teatro de palavras, Motivados pelo nada e patrocinados pelo tudo, inclusive por sua Tia."

Tenham um bom voo

Lucas Et Cetera Proa


Magalomania é um transtorno psicológico no qual o doente tem ilusões de ser Sidney Magal, em carne e osso!

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Musical Massage

Uma poesia sobre a Viagem musical. Escrevi esse texto ao som de muito Rock,Soul e Funk. Então Agredeço, antes de tudo, aos sequenciadores, pedais, metais e caixinhas de música que me deram essa oportunidade de Viajar. Observação esse texto contem muitas referências a nomes de músicas, quem quiser adivinhar fique a vontade. deixarei as respostas nos comentários.


Imagine quando a música começa,
(I can't) e não da pra explicar,
se essa Doce e amarga sinfonia
no coração encontra a harmonia.
Sensação, essa

que eu estava looking for.
seja no rock soul bolero ou balada,
Compositor, faça me um favor
,Please please please!,
Corte com fé cega, tenha faca amolada,

Para abrir seu coração
E esfrega-lo no papel.
Escreva em vermelho a partitura
que me levará cortando o estradão
até o céu. / pela Stairway to Heaven.

Assim do peito vem a melodia,
som me satisfaz por todo dia
Por isso amo roque em rou
em cada respiro que dou

um dia ouvindo Led Zepe-lin
num velho gravador.
Rochana se apaixonou por mim
Foi um bizarro triangulo de amor
ela chamou a Billie Jean.

Não danço só samba.
se batucada é em escala.
Todo mundo embala
Para bailar la bamba.

Entro no trem mistério
fecho os olhos, e sinto.
Consigo voar, se acredito.
Chego em Ipanema no Rio.
Que garota!

Então acenda meu fogo
afine a guitarra em sol
para que ilumine, rogo,
e movimente my soul.

E que em cada timbre
me transforme em novo
cada vez que ouvir de novo.
aquela Heartbreaker song.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

A Pureza do Pó podre.

( Esse texto tem palavras de baixo calão, e cenas que podem parecer a alguns incomodas e desnecessárias. As uso como recurso estilistíco para passar a ideía do texto. Se você discorda dessa forma de espressão melhor não ler o texto. Grato)


Deu uma pega pra relaxar. Segurou. Soltou. Nua no seu flat se olhava no espelho. Deu um trago forte. Seu corpo, formas curvilíneas de pele bronzeada mais ou menos rígida. Algumas poucas celulites na sua bunda, nada que atrapalhasse o seu efeito hipnotizante. Caminhou até a sacada, para olhar o movimento da rua. Em alguns minutos o carro esportivo viria buscá-la. uma chuva fina caia sobre sobre seu corpo, as gotas d'água rolavam pelas suas costas dando uma ótima sensação de prazer, era como se lavasse a alma. A tarde de sexta-feira brilhava em tons de roxo, púrpura e cinza, de céu de inverno, daqueles meio nublado meio aberto. Sangelina teria que trabalhar o final de semana inteiro. Ela preferia cheirar e meter. Lembrou que esse era o seu trabalho. Gargalhou sozinha.

Foi ao guarda-roupas e tirou dali algumas lingeries, mini-saias e topes. Não ia precisar de muita roupa. Olhou para a penteadeira, procurando lembrar o que não poderia esquecer mas tinha se esquecido: As pílulas anti-concepcionais e alguns cremes, principalmente o gel contra celulite. Sentiu fome, e resolveu levar umas barrinhas de cereal também. Colocou tudo numa bolsa amarela de vinil . Sentada no sofá vermelho, da mesma cor que suas unhas e seus olhos, comia um pão com geléia de frutas. Sua mente viajava longe. Seria uma grande festa, todos ricaços estariam lá. Voltaria entupida. De pó no nariz, de dinheiro no sutiã e de porra na xota. Gozo de velho rico era uma delícia, eles não davam trabalho nem estragavam a rigidez do instrumento de trabalho. Ela cuidava bem disso, pois sabia que “puta arreganhada não ganha mesada”. Fazia exercícios diários com uma bolinha azul.
O interfone tocou, Dr. Willians a esperava.

-Vamo entrando gatinha- Disse um homem gordo que vestia um terno lilás, que deveria ser bem caro, pensou Sangelina. -Quer dar uma animada? - Esticou uma nota, com uma linha branca de pó dividindo Benjamin Franklin em dois.

Entrou na Mercedes esportiva preta que tinha cheiro de carro novo com whiskey. Enquanto esticava o nariz em direção da nota, reparou nos detalhes do estofamento amarelo que combinava com a sua bolsa. - Opa, assim não. Tem que me animar primeiro. Se eu fico feliz, você também fica - Willians puxo nota e colocou sobre sua perna direita. O zíper da calça estava aberto. Sangelina entendeu, e sorriu com um olhar de profissional. Ele retrucou com um olhar de sedutor barato. Ela adorava esses joguinhos de recompensa.

Willians acelerava e Sangelina trabalhava. Estavam indo pra mais uma festinha privé do cartéu das industrias farmacêuticas. Como Mark Twain disse, “nenhum grupo de profissionais se juntam a não ser para conspirar”, o que era verdade, mas não quer dizer que apenas conspiram, o entretenimento vai muito além disso. A fórmula da festa era basicamente a mesma. Uma Mansão na beira mar, provavelmente a casa de algum CEO. Normalmente era uma das suas casas. Normalmente era a casa de qual a sua esposa não sabia existia, mas isso não era regra geral. Muitas esposas acabam adotando o estilo de vida do marido. Muitas esposas na verdade eram putas. Porque no ramo das putas tem as que alugam e tem as que vendem. Uma sortuda com certeza.- A brincadeira durava todo o final de semana, em que os Pistolões dividiam o tempo entre reuniões descontraídas e poker. Alias era assim que chamavam a festa. Tinham um nome mais delicado caso fossem grampeados, o jogo de poker.

Retocou o batom, e Dr. Willians venho lhe abrir a porta do passageiro. Abraçou-a colocando a mão na cintura, e caminharam pelo extenso jardim de um casarão de 2 andares. Uma fonte com 3 querubins ficava em frente a entrada. Na porta haviam dois seguranças. Ela conhecia os dois. Um era o Gregor. O outro ela não lembrava o nome. Não sabia porque ela lembrava o nome daquele segurança, ele não era ninguém. Willians sorriu pra eles. Viemos para o jogo de poker, disse enquanto um dos brutamontes abria a porta.

A Casa já estava cheia. Muitas mulheres, algumas conhecidas e outras eram novatas, e alguns velhos. Normalmente cada um deles levava duas. Willians era cliente fixo, só levava ela. Duas escadas retorcidas que levavam ao andar superior, aonde ficavam os quartos. O hall principal tinha um lustre de cristal e debaixo dele ficava uma mesa cheia de “graça”. Secos e Molhados.

-Vou jogar poker, daqui a pouco te encontro. Não vá ficar muito doida!- Largou-a em frente a mesa e foi para a parte esquerda da casa, onde os negócios rolavam. E ela foi fazer graça. A Festa passava muito mais rápida enquanto ela alucinava. Ela estava no meio da pista dança. Sangelina estava no meio de uma sala vermelha com decoração oriental. Tinha dragões desenhados no teto, e outros monstros orientais ao seu redor. Origamis com luzes dentro. Um homem lhe passou a mão pelo seus ombros e uma sensação quente correu pelo seu corpo enquanto ela dançava de olhos fechado. Ele desceu a mão e levantou um pouco o seu vestido. Sentiu-se desejada. Seu corpo era o seu templo. Abriu lentamente os olhos e olhou para o devoto. Não custumava a olhar para o rosto. Analisou sua roupa, seus sapatos, seu relógio. Não tinha relógio para analisar. Também não tinha aliança. Provavelmente não tinha cacife. Olhou o rosto dele. Era bonito e forte mas só ela tinha libido com dinheiro e com poder. Saiu andando.

Deu uma volta na festa andava sobre pequenas nuvens, e ali estava no topo do mundo. Rodeada de poder. Ela estava interessada em conseguir novos contatos. Rodava pela casa olhando nos pulsos. Queria encontrar Rolex, Tissot, Piaget. Se esfregou em alguns ternos. Esfregou o nariz no vidro da mesa. A festa passava e a loucura não. Mulheres. Beijos. Strip. Andou pelo gramado com um copo de whiskey na mão. Cambaleou e caiu sentada na terra. Apreciou a vista do mar. Arrepiou ao ver os iates estacionados na marina ao fundo da casa. A Noite brilhava, e a lua era enorme. A festa variava de branco para dourado para preto para vermelho para branco, a festa ia acontecendo.

Ela estava sentada no colo de Willians em uma mesa com outros homens. Ali tinha “cara” do alto escalão da polícia. Senador. Tinha vários sócios majoritários de farmacêuticas. Estavam todos dentro de um barco. A madrugada prometia uma bagunça em alto mar. Tudo era feito de mogno trabalhado e cristal. Ravel tocava o seu bolero como som ambiente. Ela ouvia a conversa deles enquanto Dr. Willians passa a mão por dentro do seu vestido preto.

-Já acertei tudo. Não vamos ter nenhum problema com isso.
-Eu ainda acho que esse remédio poderia dar muito dinheiro.
-Cara, Tá tudo no esquema já. O pessoal lá de cima não quer saber de colocar ouro nessa porra. Foda-se se é pra curar o câncer. Já imagino a merda que isso ia fazer com os investidores?
-Quanto a equipe de pesquisadores, podem ficar sossegados. O manager do projeto tem rabo preso comigo. Limpei o histórico escolar da filha dele. Coloquei ela em Havard. Uma vagabunda chupeteira em Havard.- Todos riram, mostrando os dentes amarelados de cigarro.
-Esse mundo tá perdido mesmo, só tem puta e cafetão nesse merda. “Seis” sabem que tão matando um monte de criançinhas se não liberarem essa descoberta.- Riu.
-Melhor assim deixa essas crianças viverem nesse mundo de merda. Com todos vocês vivos isso aqui não tem jeito mesmo.
-Olha tá aqui os papeis que eu tinha prometido. Tudo certo, comprei esse laudo. Resumindo ai tá dizendo que esse medicamento pra tratar cancer a base de ouro é ineficiente.Mas só vamos precisar usar se o esquema fuder. E com o nosso amigo Oswald aqui acho que ninguém vai ter cú pra tentar fuder o esquema.

Ali os pistolões deliberavam o futuro. Tinham acabado de abafar o lançamento de um remédio para a cura do câncer a base de ouro. Quem tava por trás desse putos não gostava nada da idéia de ter ouro correndo nas veias de moribundos. Eles não gostavam de imaginar qual seria o efeito econômico, preferiam abafar o caso. Qualquer hipótese de terem seus poderes abalados era suficiente para barganhar vidas por isso. Poder é o maior afrodisíaco já inventado, e mesmo assim eles usavam viagra. Pistolões.
Sangelina Votou a si. Olhava com sua pupila dilatada aquela cena. Lembrou-se do que tinha que lembrar mas havia esquecido. Denis, seu filho. Hoje era dia de visitas no centro médico. Ele tinha câncer no intestino e passava por quimioterapia. Faziam uns dois anos que ela havia perdido a guarda do menino. Foi depois que ela tentou chantagear o pai do garoto, um taxista, pra conseguir uma pensão maior. Ele usou um gravador e mostrou ao juiz da infância todas as ameaças dela. Ela amava o filho. Ela amava o luxo branco e o luxo dourado. Tentava assimilar a conversa daqueles putos. Ela errou varias vezes com seu filho. Sabia disso, sabia tão bem que não gostava de lembrar. Preferia esquecer. Ele tinha um pai que o amava. Não queria que seu filho fosse um filho da puta.
Ela gostava da sujeira, e mesmo que não gostasse já tava toda fodida. Já estava abraçada com o capeta. Estava sentada no colo dele. Tinha um pouco de dinheiro, mas nunca conseguia juntar muita coisa. Gastava no seu próprio corpo, gastava com pó e anti-depressivos. Tinha descoberto que tinha AIDS a um ano. Ia casar com um “puta-lover” ricaço, dono de uma rede de supermercados que lhe tratava como princesa. Ele pediu exame para ela. Ela descobriu o resultado e fugiu.


-Porra Osvald, Se aquele puto do pesquisador quiser embaçar se vai lá dar uma pressão nele. Porque se tá ligado, que esse intelectuais são cheios luxo. Ele vai querer o Nobel por causa do remédio.
- Se ele insistir nisso, ele vai ter é Nocú.

A reunião acabou, e como era de costume eles. Apagavam as luzes do iate. 5 putas e vários putos. O que rolar rolou. Com a luz apagada e toda aquela sensação de solidão. Sangelina imaginava eles matando o seu filho. Ele era seu lado puro. Se existiu algum dia pureza nela, ela havia deixado de herança para Denis. Ela agoniada pensou em virar a mesa. Mandar todos a merda , mas ela era apenas uma vagabunda para eles e eles eram apenas uns putos para ela. Pensou melhor. Ela gostava de joguinhos de recompensa. Ela recompensaria eles. Ai então talvez eles gostassem da idéia de pesquisar um remédio a base de ouro para o HIV.

Mordeu alguns pintos até sentir gosto de sangue. Rasgou as camisinhas. Eles adoraram, acharam ela selvagem. Fez um corte na vagina com sua unha vermelha. E arregalou. Deu pra todos. Foda-se a rigidez. Ela passou Aids para eles e se sentiu vingada. Eles queriam apodrecer a pureza que restava no mundo, como se não bastasse a suas próprias podridões. Desceu do barco, pegou um bote até a marina, e como estava tudo escuro ninguém percebeu. Pegou a chave da Mercedes preta com Gregor, que era um colega de colégio, por quem ela foi apaixonada durante muito tempo. Ela havia esquecido de suas paixões legitimas. Deu a partida no carro e foi para o hospital.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Mentiras, Mentirinhas e Poder

Jantar em Família. Pai, mãe e filho em volta da mesa. Um lustre de luz amarela delineá bem a claridade da sombra. Na luz os talheres brilhavam assim como os dentes, bem cuidados, da alta sociedade paulistana. A disposição dos pratos sobre o centro giratório e os sorrisos faziam a comida fitness ter uma aparência saborosa. Carnes Grelhadas, arroz integral, salada orgânica de mini-vegetais. Na penumbra da grande sala tinham fotos, móveis antigos restaurados e caixas de som acopladas ao teto, um sistema hightech de som ambiente. Uma NU Bossa Nova acompanhava a refeição dando um sabor de intelectualidade. Era o ritual da família feliz.

“Muito bem Júnior! Está comendo tudo, é assim que criança bonita faz!”- disse a mãe orgulhosa.

“Obrigado mamãe! Agora eu gosto de salada, quero ficar forte igual o papai.”

“Sim vai ficar fortão Jú, com um muque desse tamanho”- falou sorrindo e encenando com as mãos.

“Eu sou bonzinho agora né? Quem come tudo é bonzinho, mãe?”

“Sim Jú, você é um menino bonzinho, aquilo foi só uma fase. Agora você está crescidinho.” O Pai e a Mãe se entreolharam alegres com as mudanças do comportamento do filho. Valeu cada centavo.

Logo que a janta acabou, a mãe sentou-se no divã da imponente sacada para ler um novo best-seller, enquanto o pai buscava alguma série americana na tv via satélite. Sorrindo o garoto sai da mesa e andando pelo corredor a alegria vai murchando, por fim, ao chegar no quarto e fechar a porta já não existe nenhum traço de riso no seu rosto. Ali estava seguro.

Ficou enconstado na porta fechada por alguns segundos, sentindo a solidão. Junior começou a suar. Pegou o travesseiro do Bob Esponja, colocou sobre a boca para abafar o som do seu grito. Ele Odiava o Bobo esponja. Odiava salada. Continuou gritando até seu fôlego acabar. Até se sentir fraco e desabar sobre o tapete do Patrick. Odiava a nova "Nanny". Odiava o Patrick. Odiava Nu Bossa Nova. Deitado no chão do seu quarto Junior virou para sua prateleira arrumada. Sua prateleira nunca foi daquele jeito, ele tinha arrumado tudo atarde, por ordem da Nanny. Já fazia um mês. Sua força foi voltando, recuperou o fôlego e foi para de baixo da cama. Saindo dali com uma caixa da legos. Odiava estar crescidinho-queria ser homem ou criança, não queria ser “crescidinho”-.Odiava legos quando Nanny dizia que eles eram bons pra memória e para criatividade. Eles eram bons, mesmo, pra montar, pensava. Jogou todos os pedacinhos coloridos montáveis pelo seu quarto. Sentiu-se bem. Curtiu por uns minutos sua levadeza, apreciando a desordem. Mas logo venho um embrulho no estômago, não sabia se era por causa dos vegetais ou por saber que teria que juntar os legos novamente. Sentou no meio da bagunça puxou um pequeno ursinho de pelúcia para perto do peito.

Já fazia um mês que se tornou fraco e impotente. Culpa da Nanny. Mas toda essa sensação passava quando à imaginava descobrindo sua travesura. Ninguém desconfiaria, só ela.Vai ter certeza que foi ele. Sentiu-se num grande cinema assistindo a humilhação da Nanny. Soltou uma risadinha. Comeria pipoca. Pipoca doce com muito açúcar, daquelas que dão cáries. Seu corpo relaxou e ele se sentiu- bem. Tinha um plano para ter o poder novamente. E tinha muito mais que isso, tinha uma mentira das boas. Junior adorava contar mentiras. O seu sorriso grande que se contrastava com seus olhos lacrimejantes. Abrindo o seu urso, pelo zíper das costas, tirou alguns papeis e uma sacola. Tinha desenhos infantis pintados com giz de cera, carregados de sentimentos e idéias. E muito mais que isso, com certeza.

Juntou os legos enquanto esperava que os pais fossem dormir. Amanhã seria o dia. Colocou as pantufas , para não fazer barulho algum. Só ela deveria saber. Após tudo feito ele voltou para cama, cobrindo se até a cabeça como quem quer se esconder. Ou , como ainda não sabia, estava apenas curtindo a sua própria escuridão. O jogo de claro e escuro. Gostava disso. Gostava de finjir Não conseguiu dormir.

“Bom dia”- disse a Nanny, a nova governanta da casa. Bruna foi contratada pela fama de transformar garotos endiabrados e verdadeiros querubins. Era pós-graduada em comportamento infantil, sua tése de mestrado era “a geração dos garotos-problemas: as dificuldades infantis da vida na alta sociedade.”. Acordou Junior com um belo sorriso.

“Bom Dia”- disse júnior levantando e dando um abraço forte na governanta. Ele realmente gostava dela. Não era nada pessoal.

O café da manhã rico em cereais, fibras, e em frutas estava posto. A mesa da copa exibia uma fina seleção de cores, uma variedade de arco-íris. Tudo sugarfree, por conselho da governanta. Duas colheres por dia era o que júnior tinha para dividir entre as trés refeições, e caso quisesse chocolate atarde era zero açúcar. O sol invadia pelo janelão da copa realçando a fartura. E contrastando com a solidão. O pai estava dentro do jornal, e se quer sabia o que mastigava. A mãe meditava tomando café da manhã , ouvindo mantras budistas no iPod. O garoto também não estava ali. Já não sentia o gosto dos cereias a algum tempo, mas hoje sentiu um gosto amargo.

“Eu gosto muito do papai, quero ser forte que nem ele, mãe, a Nanny também gosta muito dele”-uma frase no meio do café, passou desapercebida aos ouvidos do pai. Junior não tinha malicia nessa frase.
“É por isso que eu gosto dele Jú”- disse a mãe, meio sem entender direito.

A pouco tempo atrás ele mandava na casa. Não suportava perder, se fosse contraria chantageava. Para isso sabia pelo menos umas seis frases de efeito. “Olha que eu pulo pela janela, e nem medo de altura eu tenho.” dizia ,com toda certeza do mundo. Apesar de já ter todos os brinquedos que queria, sempre foi muito mimado, nem sempre queria coisas, diga se, compráveis. Outro dia decidiu que estava na hora de seu pai lhe dar um namorada, porque se não tivesse uma, ameaçava, nunca seria feliz. Tentaram de tudo pra tirar isso da cabeça do menino. De médico a remédio, compraram dois vídeo-games, mandaram fazer um mini buggy, importaram um tênis-que-pisca-toca-mp3-e-se-transforma-em-carrinho. Nada funcionou. Ele queria uma namorada e não tinha conversa. O pai chegou a cogitar contratar uma forma de substituta de um tipo não-socialmente-bem-vista. Mãe recusou sob qualquer hipótese do filho ter um prostituta no seu quarto.- Deus-do-céu, ele só tem 9 anos.- A solução improvisada foi fingir pro garoto que eles haviam conversado com uma amiguinha, do colégio dele, e ela concordará em ser sua namorada. Demorou um dia pra ele descobrir que havia sido enganado. A menina fugiu chorando quando ele, no meio de recreio, deu um beijo na boca dela. Acabou que descontou a raiva em alguem. Convenceu Ribamar o porteiro do prédio a levar a TV de plasma da sala, dizendo que era um presente. Ribamar foi demitido por justa cousa, suspeito de furto. E o menino, que esqueceu sua idéia de namorar, riu a semana toda da cara que o porteiro.

O garoto escovou os dentes, trocou de roupa e tão logo começou as praticar as técnicas de concentração com a Nanny. Enquanto a mãe voltada do seu yôga de 15 minutos matinal para escolher a roupa do marido. Não era sempre que fazia isso, mas gostava especialmente nos dias de reunião do conselho acionário da empresa. No closet, ela olhava os ternos, combinava cores, e camisas. Imaginava o marido com aquelas roupas e gostava. Gostava, ainda mais, quando o imaginava ele sem elas. Ótimo. Um terno grafite com riscas de giz que tinha um ombro largo e uma cintura fina e justa. Uma gravata italiana com detalhes em dourado. Uma camisa básica de linho fino. Visualizava o marido. Sentiu o cheiro do perfume dele que infestava o peito dela e todo o closet. Perdeu alguns minutos ali, sentindo se pequene perto da grandiosidade da sua paixão e do seu armário. Ele foi seu primeiro namorado. Ela foi pra ele mais uma das suas namoradas. Ele precisava estruturar uma família pra crescer na empresa. Então ela correu atrás dele, e ele pensou que seria uma boa opcão, ela era a sua melhor amiga. Ela amava ele, apenas, ele gosta muito dela. Procurou a bolsa de barbear dele entre as gavetas do banheiro, gostava de lhe fazer a barba em dias importantes. Deixando-a sobre a pia, pensando se não era um erro desperdiçar aquela barba mal feita. Adorava sua barba irregular e como ela raspava no seu rosto. Poderia dizer tudo o que fazia o marido especial, os detalhes dele que faziam ela estar apaixonada. Ficou com vontade de escrever uma frase com batom no espelho, estava entusiasmada. Era difícil pensar em algo racional no meio de todas as aqueles imagens mentais que ela estava fazendo. Arrepiou. Destampou o batom e chegou perto do vidro, ainda não tinha a menor idéia do que iria escrever. Que bobeira isso. Tampou o batom. Pensou. Lembrou de uma frase de Romeu e Julieta, e parafraseou ela em vermelho sobre o espelho “Ó, somos os bobos da fortuna” Eram mesmo abobados de tamanha sorte, em encontrar o amor da vida na primeira tentativa. Falava isso por ela, mentia pra si mesmo todos os dias, fazia um conto de fadas em seu coração. Escolhia entra a mentira que adula à verdade que fere.

Eles tinham um relacionamento ótimo. Principalmente agora que júnior já não causava mais brigas entre os dois. Coisa que antes era rotina, por isso ela dava tudo pro garoto ficar quieto. Nunca perderia seu homem por causa de um filho birrento. Júnior realmente ganhava em tudo, menos na disputa pelo coração da mãe.

“Bem! Vai fazer minha barba hoje?” Disse o pai, já sentado na poltrona do quarto esperando a mulher.

A frase do marido fez ela voltar a sí. Estava dentro de um grande banheiro com uma necessaire na mão. Ela abriu a bolsinha, tirou o barbeador e o creme, e no meio disso tinha um papel dobrado de cor amarela, que não lhe era estranho. “Te Amo” estava escrito em uma letra retorcida. Uma letra “T” perfeita que dava diversas voltas. Ela nunca conseguiria, com a sua letra de médica fazer algo assim. “Quem escreveu isso?”. Essa letra perfeita, esse papel amarelo. “Quem colocou aquilo na necessaire do Renato?” . A letra era da Bruna, a nova governanta, não poderia ser de outra pessoa. Aquela letra dedicada irritava profundamente a mãe, a dedicação na letra era de alguem que poderia perder horas pensando naquilo antes de escrever. “Te Amo”. A perfeição da escrita era uma forma de seduzir. “Calma Marina, você não pode demonstrar ciúmes, sabe que Renato não pensaria duas vezes se tivesse outro ataque. Vai lá fazer a barba dele, e não demonstre nada.”

Marina se acalmou em alguns segundo e foi até o marido. Colocou uma tolha sobre o peitoral. “Uma destruidora de lares. Uma ordinária se jogando pra cima do Renato, ele nunca teria interesse algum em uma jovem bonita e inteligente. Jovem, Bonita e Inteligente. Não ele não ter porque arriscar a família dele num caso amoroso com uma qualquer. Aposto que ela só está interessada no dinheiro, quer um homem rico pra pagar seus luxos.” Passou o creme de barbear. “Mas como ela colocou esse papel ali. Como eu sou boba, ela falou que daria uma aula de adulto para o garoto. Que lhe ensinaria a fazer a barba, disse que uma aproximação ao universo adulto seria bom para o relacionamento pai e filho. Me fez comprar um bigode falso para que ele pudesse aprender a usar o barbeador. O garoto não tem sequer um pêlo no rosto, tudo isso pra poder deixar o seu veneno.” passou a gilete, sentindo a aspereza da barba. Contornava toda a face do marido, e novamente se perdeu nos pensamentos. Ele era o seu David de Michelângelo. Era só seu. Linhas retas e precisa do maxilar quadrático de Renato, acalmaram suas indagacões. Sabia como resolveria tudo. Não daria a menor brecha para que o relacionamento maravilhoso dos dois fosse abalado.

“Amor, você viu onde eu deixei aquele relógio que eu gosto?” perguntou Renato
“Já viu no criado mudo?”
“Revirei o nosso quarto todo, não achei em nenhum lugar”
“Pega outro, que eu pesso pra Cleide procurar atarde”

Na Sala, Junior tinha aula de literatura com a governanta. Ela era poliglota, falava 6 línguas fluentes. Junior ainda não sabia ler muito bem mas já se interessava bastante pelas palavras. Quando gostava de uma, em especial, pedia para que Nanny a escrevesse para ele num papel. Ia guardando todos os papeizinhos amarelo do caderno da Nanny no seu estojo. Junior adorava a Nanny. Ela era muito legal, pensava. Fazia ele entender o que era certo e o que era errado. Ele entendia isso muito bem. E ali ao lado de Nanny ele estava feliz por saber que logo ele teria o poder, e triste pela sinceridade de seus sentimentos por ela.

Um momento interessante da vida de uma criança é quando ele descobre a mentira. Descobre que pode falar uma coisa e fazer outra. Uma técnica muito aguçada do comportamento. Nenhuma animal tem tal nível de abstração da realidade que lhe permita diferenciar convicção e ação. A criança descobre a mentira por voltas dos 5 anos de idade, apartir daí ela segue a experiência do encoberto, que continua pro resto da vida se não for ensinada a moral adulta do maniqueismo. O certo e o errado. Júnior sabia o que era certo e errado. Sabia como se comportar, e sabia como conseguir o que queria. Junior aprendeu rápido isso. Ele gosta desse jogo de contrastes, mas os amantes da mentira logo entendem que não ser mentiroso para mentir. Na brincadeira da mentirinha, mentir é uma coisa que marca a personalidade e se você marcar a sua, não pode mais brincar. A mentira não tem efeito na boca do mentiroso. A grande arte, da mentira está em deixar os outros contarem. Os fatos falarem.

Já começa a anoiter, umas 6 da tarde. Bruna estava sentada na poltrona lendo um livro de psicologia esperando Júnior voltar da natação. Não conseguiu sair da primeira página do livro, releu o mesmo paráfrafo várias vezes, se perdia no meio de seus pensamentos. Estava ansiosa, não tinha certeza do que fizerá. Eles eram importantes e isso poderia arruinar a sua carreira renomada na pedagogia infantil. Ainda assim, aquilo era mais forte que toda a racionalidade. Olhava pra porta , já vinha a sua mente todas as tarde de sábado no seu apartamento com ele. Ele mentia pra mulher dizendo que iria para um congresso da empresa. Era muito mais que um sexo bom, sexo bom é sensação corporal. Quando ela estava com ele era diferente, suas almas se fundiam estava nas nuvens. Tinha um sabor proibido, algo freudiano ela imaginava. “Vou me separar, preciso acerta algumas coisas antes, mas logo logo será só eu e você” Renato dizia deitado nu na cama abraçado a Bruna. Ela era inteligente, sabia que era mentira. Nunca se separaria, a aparência de família perfeita era muito importante pra ele. Todas as posições na poltrona à incomodavam, era impossível ficar na mesma posição, a incomoda sensação da verdade. Bruna não se permitia mentir para sí, ele era um canalha, e ela adorava isso. Como pôde fazer aquilo, ensinava o certo e o errado ao garoto. E ela fazia o errado. Colocou um papel para que Marina achasse, Bruna queria acabar logo com essa mentira.

Renato chegou em casa. Sua esposa o esperava na mesa de jantar. A mesa já não tinha o mesmo brilho do jantar, estava tudo iluminado. Quando ha só luzes, nada brilha porque tudo brilha. Os olhos de Marina brilhavam. Renato tinha um vazio sentimental, desda da Tereza , um negra da lapa carioca, que o deixará por causa de um jogador de futebol. Esse vazio não doia mais, ele aprendeu a conviver com isso. O vazio do centro giratório da mesa sim. Com o passar dos anos as ferida de não ser amado, se cicatrizou, mas desde então não suportava ver espaço vazio. Lembrava daquele vazio que queria esquecer. Renato mentia todos os dias. Dizia que era melhor viver assim , sem grandes amores, sem grandes decepções. Marina o ligará atarde pra falar sobre a Nanny, disse que queria demiti-la pra colocar Júnior num colégio melhor, e deixa-lo ficar mais tempo no clube. Ele achou ótimo, essa governanta já estava causando problemas. Ele queria algo casual com ela.

Sentados na mesa, marido e mulher, pareciam saber da grande teatro que faziam. Chamaram Bruna para dar as contas. Agradeceram seu trabalho com Júnior, mas era evidente que ele já estava melhor e não precisava dela. Bruna pensou e sair calada, em não jogar a merda no ventilador. Não conseguiu, não suportava essa sensação inflada da mentira. Paracia um balão se enchendo que uma hora estouraria. Ela resolveu estourar. Contou tudo aos prantos. Contou do sexo. Contou das mentiras. Contou das promessas de Renato. Contou de todos os suspiros de amor e de prazer. Falou que amava ele. Pediu perdão a Marina. Os dois permaneceram em silêncio enquanto toda a merda caiam sobre suas cabeças. Pai e Mãe cumplices da mentira que adula. Bruna saiu correndo do apartamento descendo pelas escadas, sem levar nenhum dinheiro, não queria aquela falsidade verde. Vômitou por volta do quinto andar, teve nojo deles. Pós a mão na bolsa para pegar um lenço, achou um relógio montblanc do Renato. Não sabia o que pensar, um presente daquele canalha. O canalha que ela amava.

No quarto o menino ouvia tudo, e brincava com os seus bonecos, fazendo tramas e intrigas entre eles. Sorrindo por ter vencido de novo. Ele achava que os pais tinha visto o relógio que ele colocou na bolsa da Nanny e por isso a demitiram. Ele achava que sua mentira era genial. Junior achava que ele brilhava no mundo dos mentirosos. Mas onde Todos brilham ninguem brilha.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

O principe pequeno, Trama do poder infantil. (Preview)

(Acabei de entrar em ferias, e estou lutando bravamente pra tirar animo pra escrever, atualmente só me interesso por assuntos relacionados a travesseiro e edredon. estou terminando esse texto, resolvi soltar a primeira parte dele pra ver se eu me animo a acabo-lo. entao por favor deixe sua opiniao. Ah! e antes deixa eu avisar, estou tentando entrar numa nova fase da minha escrita, quero escrever melhor e ser mais POP. ou seja que ser de mais facil leitura, sem deixar de ter ideias interessantes, por isso se tiver sujestoes seria grato se conpartilha-las comigo.)


Jantar em Família. Pai, mãe e filho em volta da mesa. Um lustre de luz amarela delineá bem a claridade da sombra. Os talheres brilhavam, assim como os dentes, bem cuidados, da alta sociedade paulistana. A disposição dos pratos e os sorrisos faziam a comida fitness ter uma aparência saborosa. Carnes Grelhadas, arroz integral, salada orgânica de mini-vegetais. Uma NU Bossa Nova acompanhava a refeição. E a família se auto convencia do seu sucesso e felicidade.


“Parabéns Junior! Esta comendo tudo. É assim que criança bonita faz”.- Disse a mãe orgulhosa.

“Obrigado Mamãe, É verdade eu descobri como uma salada pode ser maravilhosa ao paladar, e obedecer o papai e a mamãe é coisa de menino bonzinho. Eu sou um menino bonzinho mamãe?”

“Sim Ju. Você sempre foi bonzinho era só uma fase Ju.”- e o pai e a mãe riram entusiasmados. valeu cada centavo. Ju também riu.


O jantar acabou e a mãe foi ler algum romance "best-seller" na grande sacada do apartamento, enquanto o pai sentava enfrente ao "home theather" procurando alguma serie americana para assistir. Sorrindo Ju delicadamente sai da mesa e vai para seu quarto, esboçando um grande sorriso no rosto, que foi murchando até se sentir completamente sozinho dentro do seu quarto, com a porta bem trancafiada.


Junior começou a suar. Pegou o travesseiro do Bob Esponja , colocou sobre a boca para abafar o som do seu grito. Ele Odiava o Bobo esponja. Odiava vegetais. Continuou gritando até seu fôlego acabar. Até se sentir fraco e desabar sobre o tapete do Patrick. Odiava a nova "Nanny". Odiava o Patrick. Odiava Nu Bossa Nova. Deitado no chão do seu quarto Junior virou para sua prateleira arrumada, ele tinha arrumado tudo. Ordem da Nanny. Sua vida boa tinha acabado já fazia um mês. Sua força foi voltando, recuperou o fôlego e foi para de baixo da cama. Saindo com uma caixa da legos. Odiava legos, mas eles eram bons pra memória e pra criatividade era o que Nanny dizia. Jogou todos os pedacinhos coloridos montáveis pelo seu quarto. Sentiu-se bem. Curtiu por uns minutos a levadeza contida, apreciando a desordem. Mas logo sentiu um embrulho no estômago, não sabia se era por causa dos vegetais ou por saber que teria que juntar os legos novamente. Sentou no meio da bagunça puxou um pequeno ursinho de pelúcia para perto do peito.


Sentia-se fraco, impotente. Mas a dor no peito, a dor de vingança era mais forte. Tinha que ser hoje. Estava decidido. Não perderia e ainda poderia se deliciar com a cena da tragedia próxima. Já imaginava a cena da cara da nanny, quando descobrisse a sua astucia. Ninguém, nunca mais, ousaria a desafia-lo. Imaginava com se tivesse em um grande cinema e o filme que passava era o do desconsolo da sua rival. Ela saberia, e somente ela saberia que foi ele. Sorriu. Um sorriso grande que se contrastava com seus olhos lacrimejantes.


Abriu seu urso, pelo zíper das costas, tirando dali um bocado de papéis e algumas sacolas. Eram só desenhos infantis pintados a giz de cera, carregados de idéias e sentimentos. E, com certeza, era muito mais que isso.


Esperou que os pais fossem para a cama. Colocou as pantufas para não fazer barulho, ninguém saberia. E logo que terminou tudo foi pra cama, se cobriu até a cabeça numa tentativa de esconder a sua própria sujeira, ou ,não sabia ainda, para se sentir mais sujo. Curtindo a escuridão completa. Não consegui dormir.