“Tenho-me esforçado por não rir das ações humanas, por não deplorá-las nem odiá-las, mas por compreendê-las.”
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Magalomania é um transtorno psicológico no qual o doente tem ilusões de ser Sidney Magal, em carne e osso!

sábado, 31 de outubro de 2009

Alice no Pais do lixo

Foi assim. Tinha uma colina, coberta de folhas secas, e o sol das 6 da tarde dava brilho alaranjado a paisagem. No topo da montanhazinha tinha um casebre de madeira violeta, feito com têcnica simples, e tinha uma chaminé esfumaçante. Alice dormia serena ali dentro, abraçada ao seu ursinho Tolunio. Um flamingo vermelho e de penugem áspera, dormia aconchegantemente sobre a cabeça da menina. Uma leve brisa da tarde passa por Alice e lhe roça o nariz, a fazendo espirar. O flamingo acorda assustado e se levanta da cabeça da menina. Ao se verem o flamingo encabulado faz olhar piedoso para Alice tenta se explicar:

-Mile desculpas, senhorita Alice e seu urso Tolúnio, estava andando anoite por essa colina e ao ver sua linda casinha resolvi parar para dormir. E como sua cabeçola, cheia de cabelinhos enroladinho, parecia bem quentinha e confortável, eu cochilei um pouco sobre ela.-

Alice compreendeu, ainda que meio desconfiada, o mal entendido, apesar de não ter gostado que o pássaro a chamasse de cabeçuda, pois ela achava que cabeçuda e cabeçola fossem sinônimos. Mas a menina não estranhou de ver um flamingo falante, e na verdade ela chegou a entranhar por não ter estranhado aquilo. Sem muito pensar convidou-o para brincar no campado do vale laranja, junto com seu ursinho. Animado o bicho, balançando a cabeça, concordou, e até achou interessante pois era hora do café da manhã e ali no vale laranja a diversão era achar as mexericas escondidas em sacos pretos. Na descida do morro eles iam observando o sol, que sorria um sorriso abóbora e aquecia com seu raios cósmicos as almas de todos moradores da colina. Alice olhava admiradamente a aura do espírito do flamingo e via nela coisas que eram comum aos dois, os borrões negros de tristeza e sujeira que davam o tom e um timbre a alma deles. A garota pensou que aquilo faria deles amigos, mas ela não sabia que a igualdade na maldade não aproxima ninguém. Iludida com a visão astral a menina percebeu que o flamingo se esticava com seu longo alranjado pescoço para tentar leh roubar seu urso. Ela bem que tentou impedir que o longo bico do pássaro pegasse seu bichinho de pelúcia, no entanto seus braços fraquinhos não foram suficientes para conter aqueles borrões de maldade que queimavam no peito dos dois. Na briga de puxa-urso-pra-cá-e-puxa-urso-pra-lá os dois tropeçaram e rolaram todo a colina fazendo com que se sujassem com o líquido amarronzado que escorria do solo. Vendo isso alguns ratos cinzas de narizes gordos e piscantes, como sirenes, que rondavam pela região em busca de sujeira resolveram se aproveitar da discórdia e da confusão entre o flamingo e Alice para levarem com eles o ursinho Tolúnio que por causa da briga estava em frangalhos, um olho de plástico o faltava e parte do seu enchimento de espuma fofinha saia por um buraco em sua pele de pelúcia.

Enquanto a menina estrangulava o pescoço do flamingo, observava seu reflexo raivoso pela íris amarela dos olhos desesperados do pássaro, e ali via sua loucura. E era como se passase por ela flashes de luzes douradas em alta velocidade, como no meio de uma avenida. Ela só podia sentir quem ela era naquela momento, e não conseguia ver a sua imagem no passado. Um espelho amarelo de moldura roxa e vermelha, assim era os olhos do flamingo sufocado que estava proximo a morte. Sua memória era parcial, mas quando se lembrou de seu ursinho e viu que lhe haviam roubado, percebeu que o mundo real crescia gradativamente e parte do sonho parecia pesadelo por causa disso. Percebeu que o pássaro que morria em seus braços era um urubu que lutava com ela por comida, e não um flamingo ladrão de ursinhos. A lágrima foi inevitável e o desespero foi desejável, e foi por isso que começou a chover e a trovejar relampagos amarelos. Chovia mas fazia sol, fazendo com que os raios da tempestade se confundissem com os raios do sol. Ao cair da água chuva o urubu que antes era vermelho começou a perder a cor escarlate, que era dada pelo sangue da carniça que estava coagulado sobre seu pêlo, até que ficasse completamente preto. Molhado e sem fôlego de vida o Flamingo-urubu tentou se redimir da vida de mentiras e carniça e falou em forma de confissão a última e epifânica frase à Alice. “Sapateiro Maluco! os ratos levaram seu urso para ele. Os ratos tem o esquema monstruoso”. A menina que chorava prestou atenção na frase e se arrependeu de ter matado o Urubu-flamingo que dividia com ela a mesma maldade da vida e a mesma simpatia pela epifania da morte, motivada pela redenção. Ao leitor sóbrio, o autor se faz entender e tenta, pois é possível que não consiga, explicar a loucura do conto de Alice. A garota chorava sobre o peito do urubu que lhe tentou tirar a vida, mas que por fim foi morto, assim como um condenado que mata o carrasco, Alice matou o urubu e se arrependeu, não só por ter esquecido de Tolúnio, mas também por ter matado aquele que era parte do que ela também era, uma faminta comedora de carniça, além de uma criança sonhadora. E isso tudo aconteceu debaixo de uma chuva dourada e de um sol relampejante de maneira que as gotículas de água formavam um complexo de prismas onde todo raio de luz refletia formando um arco-iris e onde os relâmpagos refletiam formando fractais de luz negra.

Visto isso, continuo a historia. Alice se levanta, suja de liquido marrom, de sangue de carniça e de perfume de flores do campo e mundo torna em tons de verde, uma vez que as nuvens que faziam chover agora estavam cobertas por folhas e bromélias. Ela estava determinada a fazer vingar o suspiro de seu amigo urubu-flamingo, e a achar seu Tolúnio. Mas andando pelo vale conseguiu apenas encontrar o olhinho de plástico que Tolunio perdeu em no meio da briga. Então como em toda história sobre loucura, ela, a loucura, dá as caras e o indeterminado, o imprevisível, acontece. Alice num ato de saudades coloca o olhinho de Tolunio sobre seus olhos. Seus olhos verdes de menina rica travaram e sua visão duplicou de maneira que em cada olho ela tinha uma visão do mundo. Uma Azulada, e outra Amarelada. A azulada era a visão dos olhos de Alice, e a Amarelada era o que o seu ursinho Tolúnio estava enxergando. A azulada era a visão do arco-íris , e a Amarelada era os reflexos da luz negra.

Agora você leitor se detenha nesse ponto e pense comigo como é difícil imaginar as coisas desse mundo de Alice. Olhar com olhos brancos ao mundo multicolor de Alice é como um rei sentado em seu trono ( de sanidade ) observando a estupidez de um bobo-da-corte que não compreendendo a piada, não ri. Mas, por outro lado, para o bobo-da-corte de olhos coloridos, que vive do doce devaneio, o lindo trono de sanidade parece uma terrível prisão, e por isso vive louco e rindo.

O olho era Azul. Um morro de destroços, misturado com restos e com dejetos, junto com um tanto de rejeitos e rejeitados. Ela era um rejeito pois os olhinhos azuis de menina rica contrastavam com a pele marrom de moradora de rua. O nariz coçava e a ansiedade subia como a maré de um mar azul,e alias, antes que o narrador se esqueça, de azul, também subia o nível da água. A chuva era forte e por ali sempre que tinha um temporal, tinha também uma enchente. Mas esse azul não era triste, e na chuva Alice brincava de barquinho de papel. Mas no meio da chuva o ursinho aparece, grande e forte, e tem olhos amarelos. Ela pergunta onde ele está, ela diz que está com saudades, conta sobre seu nariz que coça.
-A avenida das luzes neon. O doce do anil te levará a próxima escala harmônica, e só lá você encontrará o sapateiro maluco. - Disse acenando com o braço.

O olho era amarelo. Um Vale de felicidades. Que definição vaga, não? Explico: Arvores de algodão doce e flores de pirulitos. Ali era quente, e sempre tinha alguem sendo abraçado. Ali você, como o urso, se sentiria amado. Se alguem tivesse uma alma grande poderia inventar qualquer coisa que viraria realidade. Alice inventou que tinha mãe, e que tinha casa. E ali no meio do vale existia aquela mesma casinha roxa, e ali dentro sua mãe fazia o almoço. Muito arroz e feijão. Alice inventou que em cada almoço deveria se comer três pratos, senão era falta de educação. Então o ursinho vê Alice descendo correndo a campina. O ursinho logo imaginou que ela tinha ido para o outro lado, e ele estava certo. A menina descia desesperada, mas por mais que ela corresse não tinha força para imaginar, e por isso nunca chegava ao fim da colina.
-Tolunio eu preciso de você, eu não agüento mais ficar aqui, meu nariz está coçando e minha barriga está vazia.
Então o ursinho grita para a menina, ele se sente culpado em falar aquilo, mas era assim que ela poderia voltar. Venha pela estrada de NEON. Entre na ESCALA HARMONICA DO GRITO.


Ela abre os olhos, e eu estou vendo ela. Nós andamos juntos até aquela avenida, eu ia atrás observando. Você já andou por essas avenidas, você já viu Alice e ela já olhou para você. O céu estava anil estrelado e tinha doce perfume de jasmim no ar. Um perfume barato que vinha de Alice. As luzes passavam rápidas, mas uma delas desacelera, parando próximo a Alice. De dentro dela sai um monstro. Ela tentou fujir, mas ele à segurou delicadamente pelo seu braço, e falou com voz fina. “Você não precisa ter medo, veja eu sou apenas um coitado que nem sequer tenho coração.” A menina parou tentando descobrir se lhe falava a verdade, e realmente o monstro tinha um buraco em seu coração. Um grande vazio. Ele era gordo e grande mas falava com voz de criança. Não sei porque mas aquele monstro demonstrava no olhar e na mão boba uma enorme generosidade. “Menina vejo em seus olhos azuis-esverdeados a inocência que só aqueles que ainda tem um grande coração pode ter, mas não pedirei a sua inocência e sim apenas um pedaço do seu coração para que complete o vazio de meu”. E então eu não sei o que aconteceu, sei apenas que a menina sentiu medo de dar seu coração, mas quando viu que o monstro poderia lhe dar um doce de anil ficou mais calma e chegou a gostar da companhia e da bondade do monstro. Fazia tempo que ninguém a abraçava. Ele fez a menina GRITAR. Seja por grito de dor, ou de pavor, ou de amor, ela tinha que gritar pois sem grito não se pode tirar um pedaço do coração, sem o grito não se atinge a escala harmônica superior. Eu ouvi o grito pois estava no quarto ao lado.

Ah! ( suspiro)

Eu olho pela janela, e o estacionamento está cheio de flores violetas caída das arvores. É um noite escura, que de tão azul, o céu de luar parece roxo. Com meus olhos por entre as persianas eu vejo ela sair do quarto. Ela ainda esta inocente. Ela é uma criança e para as crianças o mundo é mágico, seja como for. O gordo de terno ainda está no quarto. Alguns minutos depois vejo um gordo de terno sair do quarto. Seu rosto é vazio, e seu coração é o buraco que ele tenta preencher. Ele entra no carro, e acerta uma comissão extra com alguns ratos que ficavam por ali.

Os olhos verdadeiros da infância não diferenciam autorama, de sabugo. Nem sonho, de realidade. Ela sai e atravessa a rua, a arvore de ipé roxo é grande o suficiente para que chova pétalas sobre Alice enquanto ela troca o doce de anil pelo seu ursinho em uma sapataria maluca. Alice no começo achou que não fosse o Tolunio, mas quando sentiu o cheirinho do seu amigo teve certeza. Eu tenho certeza que ela agora está no campado, na campina, na sua casinha. Aposto que Tolunio ficou muito feliz quando a viu de novo, eles brincaram de ciranda e voar. Ele convidou ela para que nunca mais o deixa-se. Ela prometeu. Para Alice a vida é viver e não existe inveja nisso, ela é o mais feliz que poderia ser, pois vive dentro de seus sonhos, e ela como mais ninguém de nós, sabe criar mundos fantasiosos. Ela precisa deles, precisa de Tolunio. O mundo real pra ela é um mero pesadelo que de tão forçado e exagerado chega a ser bobo. Sim, Alice vive e é feliz.

4 comentários:

Anônimo disse...

Primo muito bom, como sempre texto incrível!
Beijos (Milene)

Anônimo disse...

O mundo real pra ela é um mero pesadelo ...essa é a verdade

Fernanda Beziaco disse...

tá sumido rapaz!

ótimo texto. ;)

Aline disse...

Meu deus! "Para Alice a vida é viver e não existe inveja nisso, ela é o mais feliz que poderia ser, pois vive dentro de seus sonhos, e ela como mais ninguém de nós, sabe criar mundos fantasiosos." Genial!

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